A Casa dos Espíritos

“Ser-me-á muito difícil vingar todos os que têm de ser vingados, porque a minha vingança não seria mais que outra parte do mesmo ritual inexorável.”

Impossível ler esse livro e não começar a pensar no nosso mundo, hoje.

Uma história, sobretudo politica e aterrorizante.

Os acontecimentos ocorrem um a um, como um enorme quebra-cabeças, que trazendo para nossa vida atual é: colher aquilo que plantamos.

Li, sobre o amor, sobre a crença, sobre a família, mas mesmo nesses momentos, a historia era sobre o rico que se achava no direito de sobrepujar o pobre. Sobre o pobre que não acreditava no direito para si, mas que quando o tem ao seu favor, não sabe lidar... e não sabe lidar porque nunca o teve.

Um país dominado pelas diferenças de classes, com pessoas tentando mudar essa realidade (não que soubesse o que fazer com a mudança). Quando a esperança surge, os dominantes com medo de perder seu poder, começam a cavar a sua própria sepultura.

Uma realidade tão parecida com o nosso Brasil hoje, que chega a dar medo. Isso já aconteceu uma vez (porque o pior de toda a atrocidade que se lê, é saber que tudo realmente ocorreu), será que realmente evoluímos e a história não se repetirá?

A descrição do contraste de classes é chocante e terrivelmente atual:

“Viu-se nascer uma nova e soberba classe social. Senhoras muito importantes, vestidas com roupas de outros lugares, exóticas e brilhantes como lanternas noturnas, pavoneavam-se nos centros de diversão de braço dado com os novos e soberbos economistas.”

“Ao ver a grande mesa de madeira, onde uma fila dupla de crianças com os olhos suplicantes esperava que lhe dessem a ração.”

Por três gerações, vemos um homem lutar e trabalhar muito para adquirir bens materiais. Vemos uma família crescendo em torno de um mundo que está querendo mudança. Vemos as pessoas sonhando, realizando sonhos e não sabendo o que fazer com a realização. Vemos as pessoas mais abastadas querendo que as coisas voltem a ser como antes, e quando o “antes” volta, percebem que nada será como... antes.

Clara, com sua pureza, Esteban como sua truculência, Branca com seu amor, Alba com seus sonhos... Uma sucessão de personalidades marcantes e gratificantes.

Acabo o livro transtornada... acho que essa é a palavra.

São tantas as passagens, tanta coisa que queria analisar e pontuar...

Mas por fim:

Todo mundo deveria ler.
Todo mundo precisa ler.
Nós precisamos lembrar.
Nós não podemos esquecer.

“Uma grande parte da classe média alegrou-se com o golpe militar, porque significava o voltar da ordem, da pureza dos costumes, das saias nas mulheres e do cabelo curto nos homens, mas logo começou a sofrer o tormento dos preços altos e da falta de trabalho. O salário não chegava para comer. Em todas as famílias havia alguém a lamentar e já não podiam dizer, como no principio, que se estava preso, morto ou exilado, era porque se o merecia. Também não puderam continuar a negar a tortura.

Enquanto floresciam os negócios de luxo, as financiadoras milagrosas, os restaurantes

exóticos e as casas importadoras, às portas das fábricas os desempregados faziam bicha à espera da oportunidade de trabalhar por um salário mínimo. A mão-de-obra desceu a níveis de escravidão e os patrões puderam, pela primeira vez desde há muitas décadas, despedir os trabalhadores à vontade, sem lhes pagar indemnização e prendê-los pelo mais pequeno motivo.”


Editora: Bertrand Brasil
Autora: Isabel Allende

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