O Segredo da Bastarda

O segredo da Bastarda me despertou sorrisos, curiosidades, tristezas e ódios....

O livro é uma história sendo contada por uma personagem. Eugenia Maria, está com sua filha Isabel doente e conta a história de vida de sua mãe Eugenia Meneses.

Os sorrisos e curiosidades foram despertados pelas descrições do Brasil colonial. Em um determinado momento, Eugenia Meneses, portuguesa de Lisboa, vai morar em Minas Gerais, na antiga Vila Rica (atual Ouro Preto). Dentre descrições sublimes de um Brasil “conquistado”, passamos por uma conversa com Aleijadinho, por uma escrava que foge para um quilombo, por uma participante das reuniões dos Inconfidentes, e o que mais me tocou, a descrição depois, da saudade sentida por Eugenia de Meneses, da terra brasileira deixada para traz. As cores, os sabores, os corações. Foi belíssimo.

E me despertou tristeza e ódio, pela constatação repetitiva sobre a dominação machista. Se lermos na história passada ou atual, encontramos tantas e tantas como a descrita no livro que como mulher, é impossível não se abater.

Um estupro, um abuso, uma consequência. A culpa é de quem? Da mulher que seduziu. Quem pagou? A mulher que permitiu. Quem pecou? A mulher que é a portadora do pecado. Fosse quem fosse. Rica ou pobre. É mulher, a culpa só pode ser dela.

Antigamente a (o) bastarda(o) não tinha direitos nenhum (quando mulher ela ainda conseguia sofrer um tantinho mais). Pensando em nossa “pseudo-evolução” cheguei à conclusão que hoje em dia, o ser filho só de mãe, tem todo direito como qualquer criança, não porque a sociedade entendeu que a criança renegada pelo pai não tem culpa, mas porque a quantidade de nascidos nessa situação é tamanha, que o mundo não seguiria adiante se tudo lhes fosse tirado. Só no Brasil, em um censo escolar feito em 2011, 5,5 milhões de crianças brasileiras não tinham o nome do pai no registro. Não, eu não estou dizendo que o registro basta, nem que isso resolve. Mas é uma forma de mensurar a irresponsabilidade social. Daí disso, ainda entra os quem tem o registro e são abusados pelos próprios pais... e a culpa é da mulher. Sempre.

Em suma, um livro mais uma vez que me tirou da caixa. Pensei além daquilo que ele contou. Acho que um livro que te faz pensar é ótimo.

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