O Conto da Aia

A Realidade do (im)possível

Quando comecei o livro, fiz meu primeiro histórico falando do medo de ler distopias. Tenho medo que elas aconteçam. Li poucos livros do gênero, dentre eles, achei este o mais provável de surgir. Não! Nossa realidade não está tão perto assim! Mas as patologias sociais ao qual temos visto faz com que me pergunte: onde vamos parar?

O Conto de Aia, apresenta a história de Offred. Ela vive em uma sociedade onde todos os direitos foram suprimidos e as mulheres são as mais afetadas quando separadas por “tipo” de mulher. As Aias, as Esposas, as Filhas, as Marthas, as Não Mulheres... entre outros.

Offred conta sua história e nos apresenta seu mundo. O sofrimento reprimido (pra quem é mãe, impossível não se comover). A aceitação sem esperança de que seu mundo virou de cabeça para baixo sem previsão de retorno. A indiferença pela vida, já que é como se ela não existisse mais.
“Talvez eu na verdade não queira saber o que está acontecendo. Talvez eu prefira não ter conhecimento. Talvez não possa suportar o conhecimento.”

A descrição desse mundo, aos poucos conta superficialmente como chegaram àquele ponto. Nada muito explicado, mas deixa claro que a sociedade de repente se viu privada de sua vida, questionou no inicio, e depois de conformou. Os próprios doutrinadores dessa realidade que “ensinavam a nova forma de viver” sabiam: Difícil era o agora. O reeducar. Mas as novas gerações já nasceriam assim, viveriam assim e simplesmente aceitariam.

A apatia e descaso da sociedade do livro (dos “tempos antigos”, como Offred de referia) tornaram possível a total dominação. É de onde vem o meu medo. Nossa total apatia e descaso pelo nosso mundo atual. Nada fazemos, tudo aceitamos. Está tudo errado e nós estamos brincando de fazer “memes” na internet.
“Corpos encontrados em valas ou na floresta, mortos a cacetadas ou mutilados, que haviam sido submetidos a degradações, como costumavam dizer, mas essas matérias eram a respeito de outras mulheres, e os homens que faziam aquele tipo de coisas eram outros homens. Nenhum deles eram os homens que conhecíamos. As matérias de jornais eram como sonhos para nós, sonhos ruins sonhados por outros. Que horror, dizíamos, e eram, mas eram horrores sem ser críveis. Eram demasiado melodramáticas, tinham uma dimensão que não era a dimensão de nossas vidas. Éramos as pessoas que não estavam nos jornais. Vivíamos nos espaços brancos não preenchidos nas margens da matéria impressa. Isso nos dava mais liberdade. Vivíamos nas lacunas entre as matérias.”
Ótimo livro. Faz pensar!

Autor: Margaret Atwood
Editora: Rocco

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